Operação Renovação - Habitável é Questionável
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Há projetos que começam com um plano. Este começou com uma ruína, uma boa dose de coragem e um inverno rigoroso.
A ideia era simples no papel: pegar numa ruína e transformá-la em lar. A parte menos simples? Fazer isso enquanto vivemos dentro dela.
Chamámos-lhe “Operação Renovação” - um nome militar para uma missão doméstica.
A estratégia? Viver, trabalhar, respirar (quando possível) e dormir no meio do caos.
Mais do que uma obra, é uma história de resistência, amor e poeira...
Um diário de reconstrução que mistura cimento com emoção e onde cada metro quadrado terminado é motivo de festa.
Aqui, o conceito de habitável é flexível. E o de normalidade… irrelevante.
Etapa 1: Objetivo do Projeto
O objetivo é remodelar integralmente uma casa antiga, preservando a sua essência rústica e adaptando-a às necessidades contemporâneas, sem nunca abandonar o espaço durante as obras.
Mais do que uma intervenção física, este projeto é uma experiência de habitar em transformação - explorar o limite entre o que é casa e o que é estaleiro, entre o planeamento e a improvisação.
Queremos documentar e partilhar essa jornada: o desconforto, a poeira, o micro-ondas heroico e, acima de tudo, a alegria de ver nascer cada pedaço de futuro no meio dos escombros.
Etapa 2: O Cenário: A Ruína Habitável
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A casa, de dois pisos, apresentava-se como uma ruína com potencial - estrutura firme, alma antiga e paredes que guardam histórias.
O plano de ação foi dividido em fases, com uma lógica muito própria: remodelar por cima, viver por baixo.
Enquanto o piso superior se transformava em zona de descanso, o piso inferior servia simultaneamente de sala, cozinha improvisada, arrecadação e abrigo temporário.
Cada dia era uma mistura de obra, acampamento e comédia doméstica.
Etapa 3: O Começo: Entre os pingos da Chuva
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A aventura começou de cima para baixo - literalmente.
Em março, entre dias de sol intermitente e chuvadas teimosas, substituímos toda a telha e lançámos uma laje sobre a cozinha. Foi o primeiro grande passo, e também o primeiro susto: o tempo parecia conspirar contra nós, e o relógio trabalhava em modo de urgência.
Enquanto os andaimes se equilibravam ao vento, já se falava em caixas de ferramentas, cimento rápido e o som do martelo como banda sonora. O teto, que antes ameaçava ruir, tornou-se símbolo da nossa primeira vitória: deixar a casa respirar sem chover lá dentro.
Etapa 4: Casa de Banho: Versão de Sobrevivência
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Antes de podermos viver ali, precisávamos de um mínimo de civilização: uma casa de banho funcional.
A canalização foi toda refeita - mas com pragmatismo. Apenas as louças essenciais foram substituídas: sanita, lavatório, duche improvisado.
Nada de azulejos novos nem torneiras de revista. O objetivo era um só: água corrente e funcionalidade.
Foi também o momento em que tivemos de encontrar a fossa original da casa, perdida algures num terreno de cinco mil metros quadrados.
Entre enxadas, lama e nervos, descobrimos mais sobre o terreno (e sobre nós mesmos) do que em qualquer manual de engenharia.
Quando a água finalmente correu para o lugar certo, parecia milagre.
Etapa 5: Luz, Televisão e Outros Milagres Elétricos
Ter teto, portas e canalização era um começo, mas ainda faltava luz e energia.
Foi então que decidimos aprender, sozinhos, a fazer eletricidade doméstica.
Fios, disjuntores, tomadas… e um tutorial atrás do outro.
Tudo para que o frigorífico pudesse trabalhar, o micro-ondas aquecesse o jantar e o termoacumulador nos desse banhos mornos.
Quando finalmente ligámos a televisão e vimos a primeira imagem tremida, a sensação foi de pura conquista.
E quando a internet chegou à casa, o mundo voltou a caber dentro das quatro paredes - mesmo que ainda cheirassem a tinta e pó de gesso.
Etapa 6: Portugal Apagou: E Nós Brilhámos à Luz dos Pirilampos
Houve um dia em que Portugal inteiro mergulhou no escuro. Um apagão elétrico que parou cidades, assustou vizinhos e fez correr notícias.
Mas aqui, na nossa pequena ruína, nada mudou. Já estávamos treinados para viver com menos luxos e mais improviso - o jantar foi churrasco, as velas já faziam parte da rotina e a água do poço correu como sempre.
Enquanto muitos procuravam luz e sinal de rede, nós brindávamos à calma - rodeados por árvores de fruto, iluminados pelo fogo, pelas estrelas e por dezenas de pirilampos a voar pelo terreno.
E foi nesse instante que percebemos: quando o mundo apaga, a natureza acende.
Etapa 7: Habitar o Caos: A Sala-Casa-Tudo
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Durante meses, o piso inferior - originalmente sala e sala de jantar - foi o nosso universo.
Ali dormíamos, cozinhávamos, trabalhávamos e sonhávamos com o andar de cima. As ferramentas conviviam com o sofá, e o micro-ondas era o eletrodoméstico mais requisitado.
Era uma espécie de acampamento indoor, um cenário que alternava entre o improviso e a comédia.
Mas havia beleza nessa desordem: cada dia vivido ali era prova de que o lar não é um lugar acabado, é um processo.
Etapa 8: O Quarto: o Primeiro Refúgio
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O primeiro grande avanço da operação foi o quarto principal, desenhado para ser o primeiro espaço realmente terminado - um pequeno oásis num deserto de entulho.
O projeto incluiu uma suíte com closet, acessível por duas entradas laterais na cabeceira da cama - um detalhe pensado para fluidez e conforto, quase um luxo arquitetónico em contexto de sobrevivência.
Durante as obras, o som da rebarbadora fazia de despertador e o cheiro a tinta substituía o do café. Ainda assim, o quarto tornou-se o primeiro símbolo de conquista: o momento em que a ruína começou a ceder lugar ao lar.
Etapa 9: A Cozinha: o Coração (em Obras)
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A seguir, foi a vez da cozinha — o espaço mais crítico, o epicentro das rotinas e o mais difícil de conciliar com o caos da remodelação.
Foi um projeto pensado ao detalhe — o coração funcional da casa.
O conceito mistura modernidade e rusticidade, com linhas simples e materiais duradouros.
Durante essa fase, os menus diários foram ditados pelo micro-ondas e pelo grau de acessibilidade à tomada mais próxima. As refeições ganharam um sabor especial: o da resiliência.
O chão era pó, o fogão um sonho, e o frigorífico, um herói silencioso que resistiu a tudo.
Etapa 10: Viver e Remodelar: a Arte da Improvisação
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Morar numa casa em obras é um exercício de criatividade extrema.
É aprender a fazer cabides com andaimes, a decorar com plásticos e a chamar “zona de estar” ao canto menos poeirento.
O desconforto é constante, mas também é ele que ensina a apreciar o progresso - um metro quadrado de chão limpo parece uma festa, e cada parede pintada é uma vitória épica.
A experiência revela algo essencial: habitar não é apenas ocupar um espaço, é adaptar-se a ele enquanto o transformamos. E, no fundo, é isso que este projeto celebra.
Etapa 11: O Próximo Desafio: A Casa de Banho Inferior
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O último grande capítulo, por agora, é a remodelação completa da casa de banho do piso inferior (sim aquela onde apenas substituímos as louças essenciais lá no capítulo 4!)
O plano inclui revestimento em pladur, nova cerâmica, instalação de chuveiro, lavatório e acabamentos que misturam o rústico e moderno, sem nunca esconder a essência da casa.
Depois de tudo o que já vivemos, sabemos que será mais uma prova de paciência - mas também mais uma vitória à vista.
Etapa 12: Um Sonho Chamado: Quintinha
No fundo, esta história é simples: somos um casal jovem com o sonho de ter uma Quintinha em Portugal.
Com as próprias mãos, entre dias de sol e chuva, entre o pó e o riso, estamos a construir não apenas uma casa, mas um modo de vida.
É uma aventura feita de improvisos e descobertas, onde cada fase é uma celebração.
Não há luxo - há propósito.
Não há pressa - há persistência.
E, acima de tudo, há amor: pela terra, pela casa e pelo sonho que nos move.
Etapa 13: Conclusão: O Manifesto Habitável
“Operação Renovação” é o retrato de uma vida em construção - literalmente.
Habitar uma ruína em transformação é uma lição de humildade e paciência: ensina-nos que o conforto é relativo, a poeira é inevitável, e o lar é uma conquista diária.
Entre telhas, cabos e micro-ondas, descobrimos que viver é remodelar-se constantemente.
E, enquanto houver pó no chão e esperança nas mãos, a obra continuará - dentro e fora das paredes.
Entre ferramentas e sonhos, a ruína renasce - e nós com ela.
Porque, no fim, habitável é questionável, mas viver com propósito é inabalável.
Etapa 14: Obrigado!
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E que esta história chegue aos corações certos:
Aos que acreditam nos sonhos feitos com calos nas mãos, aos que veem beleza nas imperfeições, e aos que entendem que construir é um ato de amor.
A “Operação Renovação” é mais do que a recuperação de uma casa: é um lembrete de que a vontade supera o impossível, de que o lar se constrói com paciência, e de que Portugal ainda é terra fértil para quem sonha e faz.
Entre tijolos, poeira e esperança, seguimos a transformar o que era ruína em futuro.
E, porque sabemos que nenhuma grande obra se faz sozinha, deixamos este convite:
Toda ajuda é bem-vinda - ideias, palavras, materiais, ferramentas, ou apenas um gesto de coragem.
Que este projeto inspire quem o lê, que toque quem o vê,
e que, de alguma forma, faça parte desta casa que estamos a erguer - pedra sobre pedra, sonho a sonho.